Felippe Serigati

São Paulo/SP
Veja o Perfil Completo

Felippe Serigati

Possui graduação em Ciências Econômicas pela Universidade Estadual de Campinas (2005), mestrado em Economia de Empresas pela Fundação Getulio Vargas - SP (2008) e doutorado em Economia de Empresas pela Fundação Getulio Vargas - SP (2013). Atualmente é professor da Fundação Getulio Vargas - SP e pesquisador da Fundação Getulio Vargas - SP. Tem experiência na área de Economia, com ênfase em Economia Agrária


Vídeos



Artigos


Falsa contradição

Falsa contradição


AO FINAL do primeiro semestre deste ano, ficou clara a deterioração das condições do mercado de trabalho brasileiro:

• Encolhimento (-0,73%) da população ocupada (número de pessoas que encontraram uma oportunidade no mercado de trabalho, seja formal ou informal);

• Aumento (6,7%) da taxa de desocupação (fração da força de trabalho que está procurando uma oportunidade no mercado de trabalho, mas ainda não encontrou);

• Queda (-2,0%) do rendimento médio real das famílias.

Essa dinâmica tem sido fortemente influenciada pela grave crise da indústria nacional e pela retração do setor de serviços. Já no setor agropecuário, o mercado de trabalho tem apresentado um comportamento distinto: enquanto a taxa de desocupação aumenta, tal qual no restante da economia, o rendimento médio tem crescido mais intensamente do que nos demais setores econômicos. À primeira vista, isso pode parecer uma contradição, mas, na verdade, não há qualquer contradição nesses números.

O mercado de trabalho no setor agropecuário

Por muito tempo, não foi possível acompanhar adequadamente a evolução do mercado de trabalho no setor agropecuário, pois a principal pesquisa sobre emprego e desemprego do IBGE, a Pesquisa Mensal do Emprego (PME), coleta dados somente em seis Regiões Metropolitanas, onde as atividades agropecuárias têm uma participação pequena no PIB.

Essa situação mudou a partir da divulgação de uma nova pesquisa, também do IBGE, sobre o mercado de trabalho brasileiro: a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua, que conta com informações de aproximadamente 3.500 municípios, ou seja, seus números são representativos para todas as Unidades da Federação (interior e Regiões Metropolitanas).

Mercado de trabalho no setor agropecuário

Mercado de trabalho aquecido

Embora as séries históricas da PNAD Contínua sejam curtas (não há números anteriores a 2012), já é possível observar algumas tendências:

• O setor agropecuário tem absorvido uma quantidade cada vez menor da mão de obra. Enquanto, no primeiro trimestre de 2012, o setor respondia por 11,7% de toda a população ocupada, ao final do primeiro trimestre de 2015, apenas 10,4% da mão de obra estavam ocupados nas atividades agropecuárias.

• Desde 2012, a população ocupada no setor tem encolhido 2,5% a.a. Isso significa que, desde aquele ano, as atividades agropecuárias têm sido o setor que mais tem retraído a contratação de mão de obra. Por exemplo, apesar de a crise ter se intensificado neste ano, o encolhimento da demanda por mão de obra no setor (-1,5%) só não foi menor do que nos setores de Construção Civil (-5,7%) e Administração Pública, Defesa e Seguridade Social (-9,4%).

• Por fim, apesar da redução da contratação de mão de obra, desde 2012, o ritmo médio de expansão dos rendimentos da população ocupada nas atividades agropecuárias (3,7% a.a.) foi o maior registrado entre todos os setores e subsetores econômicos monitorados pela PNAD Contínua.

Por que os salários sobem?

Os salários – na verdade, o rendimento médio – no setor agropecuário têm crescido acima da média observada no restante da economia por dois fatores:

• A crise da economia brasileira tem sido menos intensa na maior parte do interior do País, de forma que o setor de serviços – setor que mais emprega na economia – nessas regiões permaneça relativamente mais aquecido do que nas Regiões Metropolitanas.

• O setor agropecuário continua buscando maior produtividade via incorporação de tecnologia, o que libera mão de obra menos qualificada e demanda profissionais mais especializados, cujos salários são mais altos, contribuindo para elevar o rendimento médio no setor.

Por que a população ocupada tem encolhido?

A população ocupada no setor agropecuário tem encolhido porque a mão de obra tem ficado cada vez mais cara. Como os preços dos demais custos de produção (frete, energia elétrica, óleo diesel etc.) também têm subido, a margem dos produtores tem se estreitado, limitando sua capacidade de acompanhar a subida dos salários. Como solução, os produtores têm investido em tecnologias mais intensivas em capital do que em trabalho; tais tecnologias, por sua vez, demandam um volume menor de mão de obra, porém mais qualificada. Com isso, observa-se, por um lado, uma redução da população ocupada no setor e, por outro, um aumento na contratação de trabalhadores formais e um aumento do salário médio pago.

Antes de encerrar, é importante deixar claro que toda esta análise refere-se exclusivamente às atividades agropecuárias, e não ao agronegócio como um todo. Infelizmente, pelos números disponíveis na PNAD Contínua, ainda não é possível avaliar a dinâmica do mercado de trabalho nas agroindústrias, nem nas indústrias produtoras de insumos e maquinário

Mande-nos uma Mensagem