Você já percebeu o nível de semelhança nas atitudes de pessoas que trabalham juntas há muito tempo? Reparou que elas tendem a estabelecer a mesma velocidade, ritmo e um padrão de concordância comportamental que aproximam as decisões, condutas e produtividades? Essa ação se chama sincronia, uma tendência de todos os indivíduos de vibrar na mesma frequência, adaptando-se ao ambiente ao seu redor.
Segundo estudos do matemático Steven Strogatz da Universidade de Cornell, nos EUA, isso ocorre devido à Força da Sincronização, uma propensão à organização espontânea presente no Universo e em todos nós. Ela é definida, simplificadamente, como uma inclinação para a harmonização das ações de forma coletiva, algo que todos desenvolvem ao se agruparem com outros indivíduos. O fenômeno é observado quando todos começam a praticar uma mesma ação, num mesmo sentido.
Todavia, como já falei em outra publicação da Revista Gestão RH (Ed. 132 – 2017), essa condição em grupos pode se apresentar de duas formas:
A mais produtiva, e ótima para a formação e manutenção de uma grande equipe, é conhecida como Mente de Colmeia, pela qual o resultado coletivo é a soma consciente dos resultados individuais. Por exemplo: o movimento de “OLA” que é praticado com o erguimento e extensão dos braços de muitos envolvidos de forma lúcida e sincronizada, gerando um tipo visual de onda dentro de um estádio de futebol;
A menos produtiva, caótica e deletéria para qualquer conjunto de indivíduos é chamada de sincronização via Efeito Manada, que ocorre quando se começa a fazer o que outros estão fazendo sem se refletir se aquele comportamento será bom para o resultado final do grupo. É o caso de pessoas aglomeradas numa multidão, onde todos começam a querer se deslocar abruptamente numa mesma direção, sem se preocupar com os outros ao redor; assim, a massa é levada sem controle, e esse tumulto pode causar graves acidentes, como fortes empurrões, esmagamentos e até pisoteamentos se alguém sofrer uma queda.
Atualmente uma das maiores ferramentas que tem sido utilizadas nas redes sociais de forma capciosa e perigosa é a ativação do Efeito Manada (EM) através da elaboração de “Fake News”. Para isso, pessoas publicam notícias falsas com o intuito de viralizar o conteúdo, agrupando a manada, o público, e assim direcionando a opinião do coletivo, o rebanho, para onde eles querem, independentemente se aquilo fará bem ou mal aos envolvidos.
Quanto mais sensacionalista for a notícia, mais atrairá pessoas, e quanto mais os indivíduos observam que outros estão indo neste caminho, curtindo, comentando e compartilhando a informação, maior será a tendência de outros irem também, chegando ao ponto de se formar uma multidão com a mesma linha de pensamento e opinião sobre um determinado assunto, praticando todos as mesmas atitudes sem questionar certo ou errado. A manada segue seu fluxo sem refletir sobre aquilo, apenas fazendo porque todo mundo está fazendo também. Essa técnica, infelizmente, é usada rotineiramente para denegrir ou enaltecer a imagem de pessoas, consolidar ou destruir uma marca, e, principalmente, para influenciar uma disputa eleitoral, direcionando a opinião pública para algum ponto de vista e candidato.
E por que isso é importante para sua equipe? Já dizia o filósofo Friedrich Nietzsche: “A loucura é uma exceção nos indivíduos, mas a regra nos grupos”.
Vivemos inseridos nesse contexto e, diante disso, ninguém está imune a este tipo de mau uso da Força da Sincronização.
A manada segue seu fluxo sem refletir sobre aquilo, apenas fazendo porque todo mundo está fazendo também. Essa técnica, infelizmente, é usada rotineiramente para denegrir ou enaltecer a imagem de pessoas, consolidar ou destruir uma marca, e, principalmente, para influenciar uma disputa ele
Conjuntos de pessoas no trabalho podem se tornar uma boa equipe ou um mau grupo. E a próxima vítima pode ser sua empresa, sua equipe ou até mesmo você.
Para evitar isso, proponho a reflexão de alguns exemplos de EM no nosso dia a dia.
“Poxa, eu não vou ficar perdendo meu tempo arrumando isso aqui, sendo que ninguém arruma”
Quando você se atrasa um pouco, alguém vem te cobrar e você logo retruca: “Caramba, um monte de gente se atrasa e ninguém fala nada, mas quando é comigo…”
“Aqui cada um só pensa no seu, ninguém se preocupa comigo, então a partir de agora vou ser assim também, não vou me preocupar com mais ninguém”
Esse tipo de pensamento não é privilégio exclusivo seu. Quem faz isso não é a pessoa mais egoísta e individualista do mundo, simplesmente está seguindo o coletivo, entrando em EM. Pensar daquela forma faz sentido em alguns momentos porque quando olha para o lado, você observa todos tendo a mesma atitude, e se torna lógico fazer igual. Mas isso, a longo prazo, vai se tornar um grave problema na equipe, podendo ocasionar atrito entre os membros e diminuição da produtividade.
E se você não tomar cuidado vai começar a trabalhar errado também! Começará a não arrumar a mesa porque ninguém arruma, chegar um pouquinho atrasado porque todo mundo chega, e parar de ajudar os outros porque ninguém te ajuda.
Sabe aquela clássica frase: “faz o seu e não se preocupa com os outros”? É vibração total em Efeito Manada. Se todos começarem a fazer isso, o que vai acontecer? Se todos fizerem só o seu e não se preocuparem com o trabalho dos outros integrantes da equipe, qual é a chance de isso dar certo no final? Cuidado para não cair nessa armadilha.
Existem diversos fatores que podem desencadear o EM no seu trabalho. Vou citar quatro:
Quanto menos detalhada for a informação, quanto maior a falta de planejamento, gerenciamento e descrição das tarefas, maior a chance de as pessoas não saberem como conquistar a meta proposta. Isto pode causar um EM de paralisia coletiva, na qual ninguém tomará nenhuma atitude por não existir protocolo definido para determinadas situações. Ou, pior ainda, alguém pode ter uma interpretação errônea do objetivo a ser atingido, e todos começarem a seguir esse caminho até o ponto que levará a um abismo sem retorno. Exemplos de frases típicas desta condição: “Eu não sabia”, “Ninguém me falou que era assim”, “Não foi do jeito que me passaram”.
Quanto mais engessado o sistema, menor a possibilidade de postura flexível dos colaboradores. Em alguns setores das empresas, por exemplo, os funcionários são separados em blocos operacionais com as funções seguindo uma forte rotina preestabelecida e a possibilidade de ascensão restrita. Isso cerceia no indivíduo a capacidade de criar novas estratégias de trabalho que beneficiem a todos, pois ele se enxerga muito limitado. Nesta condição de falta de flexibilidade profissional, não demora muito para ativar o EM no grupo e todos estarem agindo da mesma forma e se tornando cada vez mais inflexíveis. Exemplos de frases típicas desta condição: “Esse trabalho não vai mais dar tempo hoje”, “Este serviço não sou eu que faço”, “Não posso te dar certeza se vou conseguir porque não depende só de mim”.
Por mais que a filosofia da empresa, missão, visão e valores já estejam pré-definidas e bem estabelecidas, a ausência de perfis psicológicos diferentes e complementares entre indivíduos da mesma equipe pode fechar o leque de possibilidades, limitando a criatividade e melhoria das atividades com poucas formas de análise de necessidades. Se todos tiverem o mesmo perfil de afinidades, num curto espaço de tempo iniciam a sincronização via EM e começam a ter as mesmas opiniões e atitudes para tudo, independente da área de atuação, o que pode causar um grande desequilíbrio na empresa, inflando demais alguns setores e deixando outros abandonados. Exemplos de frases típicas desta condição: “Não me sinto bem fazendo isso”, “Qual é a necessidade de termos este setor na empresa?”, “Vamos deixar este departamento para depois”.
Essa é a principal causa de EM na minha opinião. Uma pessoa insegura, desconfortável dentro de um grupo, dispara dentro de si o instinto mais primário de todo ser vivo: a sobrevivência. E para se proteger dos perigos decorrentes da falta de confiança ao seu redor, ela começa a se defender escondendo seus erros e criando um clima de insatisfação no ambiente que acaba sendo disseminado entre os outros membros da equipe; quando se dá conta, todos estão agindo dessa mesma forma, se autoprotegendo sem se preocupar com o resultado final, e assim o EM impera e a produtividade despenca. Exemplos de frases típicas desta condição: “Não fui eu!”, “A culpa é sua”, “Isso não vai ficar assim”.
Por mais que a sincronização via Efeito Manada por muitas vezes pareça um caminho plausível para se conquistar um bom resultado, por ser de fácil assimilação e estar ancorado no argumento de que todos fazem assim também, seu uso contínuo pode ser extremamente deletério em todos os segmentos da vida.
E o primeiro passo para evitá-lo é saber que existe e como funciona. Desta maneira, quando você se enxergar nesse caminho, irá perceber o quão aquilo pode ser prejudicial e buscará enxergar uma saída para você e sua equipe.