A última vez que discuti política nas redes sociais foi exatamente há 4 anos, exatamente ao final do segundo turno da eleição presidencial. Literalmente bati boca com duas pessoas próximas sobre o resultado e a minha visão na época. A discussão foi quente. Resposta atrás de resposta, réplica, tréplica e muitas, muitas palavras duras. O que ganhei? Nada. Perdi dois “amigos” e paguei um mico federal, porque a pessoa que defendi na época depois se mostrou mais tarde tão ou mais safado do que a que critiquei. Após refletir muito sobre o episódio, decidi que só discuto temas polêmicos pessoalmente e olho no olho. O texto, por melhor que seja, nunca é tão pessoal e completo quanto uma boa conversa. Tenho certeza absoluta de que, se aquelas discussões tivessem sido travadas pessoalmente, acabariam melhor.
De lá pra cá, acompanhando também fatos do mercado e opiniões de recrutadores, tenho recomendado aos meus alunos que sigam o mesmo caminho, ou seja, não tratem de temas polêmicos em redes sociais. Política, religião, aborto, entre outros, são temas que exigem debates profundos, conversas longas e que ficam muito comprometidas na rede. Além disso, como a capacidade de raciocínio crítico hoje, na média, é muito baixa, alguns entram no meio da conversa e atrapalham ainda mais a discussão, com opiniões grosseiras, rasas e sem embasamento. O resultado é sempre um show de tapas de ambos os lados. Um outro fator, e talvez o mais importante de todos, é que ninguém (na minha visão) é 100% imparcial. Somos sim julgados também pelas nossas posições ideológicas e isso afeta diretamente a simpatia das pessoas por nós. E não apenas do nosso ciclo pessoal, mas profissional também. Para quem acredita na imparcialidade, por favor me conte um fato histórico relevante que não teve uma bela pitada de parcialidade. Desconheço.
Recentemente, um fato viralizou nas redes sociais e mostra mais um exemplo desse barril de pólvora. A Chef Heleza Rizzo, competentíssima e renomada, já tendo ganhado o prêmio de melhor chef mulher do mundo, num momento de profunda infelicidade, juntou a sua equipe e tirou uma foto com todos mostrando o dedo indicador com uma mensagem contra um candidato à presidência. Pronto, a foto viralizou e o post (depois excluído, mas já salvo por muitos) foi alvo de um bombardeio de críticas e de uma campanha contra os restaurantes onde ela trabalha em São Paulo. Em outro post no instagram, após ter apagado o primeiro, ela fez um pedido formal de desculpas, mas também só recebeu patada nos comentários. Uma legião de pessoas defendendo, inclusive, boicote aos restaurantes.
Sei que para alguns, e respeito muito esta opinião, não se posicionar é sinal de omissão, falta de personalidade, covardia ou o que quer que seja. Mas sigo convicto com a minha opinião de que as redes sociais não representam o melhor lugar para se debater certos temas, ainda mais em um momento de elevada polarização e ânimos à flor da pele. Neste caso, a chef Helena, por ser quase uma celebridade, teve a oportunidade de receber respostas, se posicionar e explicar melhor a sua opinião. No caso de muitos profissionais, seus posts são julgados, seus currículos vão para o arquivo morto ou seus negócios são boicotados, e nem ficam sabendo. Não sei o que é pior. Até o próximo!
Marcelo Veras é CEO da Unità Educacional e sócio e membro do conselho da Inova Consulting. É também professor de Marketing, Estratégia Empresarial, Planejamento de Carreira e Life Design em MBA Executivo e tem mais de 25 anos de atuação em grandes empresas como Rede Positivo, Souza Cruz, Claro, TIM, ESPM, ESAMC e Atmo Educação. Além disso, é mediador do FAB – Future Advisory Board, grupo de líderes da região de Campinas que discute Futuro e Tendências.
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