Se você odeia segunda-feira, está fazendo negócios do jeito errado, diz Hugo Bethlem

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Está em curso uma revolução no mundo dos negócios. Uma revolução de consciência – a revolução do capitalismo consciente. “A proposta é a do equilíbrio entre o mercado livre, da livre iniciativa, e a distribuição de renda”, definiu Hugo Bethlem, a principal voz do movimento no Brasil, no primeiro dia do Festival de Inovação e Cultura Empreendedora, o FICE 2018. “Menos de 70 pessoas detêm a mesma riqueza que mais de 3,5 bilhões de pessoas”, disse o diretor do Instituto Capitalismo Consciente.
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A busca pelo lucro a qualquer preço, em curtíssimo prazo, não pode mais ser a prioridade. O executivo lembra que a economia de mercado reduziu globalmente a pobreza e o analfabetismo. Mas precisa avançar. “O capitalismo trouxe uma série de benefícios mas também trouxe muitos males”, lembrou Hugo. “Hoje, em algumas cidades, se tem mais mortes 'corporativas', por suicídio, por depressão, do que por violência urbana.”
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Muita gente, segundo Hugo, está desesperada, angustiada, aflita... E por quê? Porque não gostam do que fazem. Para muitos, segunda-feira é o inferno e o final de semana, o que mais se almeja. “Poderia almejar o final de semana e amar o que eu faço”, garantiu ele. “Somos capitalistas acima de tudo, precisamos gerar resultados positivos, mas isso pode ser feito de maneira mais justa.”

A livre iniciativa, afirmou Hugo, parte do seguinte princípio: o negócio é bom porque cria valor; é ético porque está baseado em uma troca voluntária; é nobre porque eleva nossa existência e é heroico porque tira as pessoas pobreza e gera prosperidade.

Criado nos Estados Unidos em 2010, o movimento do capitalismo consciente chega ao Brasil em 2013. “Existimos para transformar o Brasil por meio da inspiração a negócios conscientes, sustentáveis e inovadores”, disse Hugo. O capitalismo consciente se baseia em quatro pilares:

1.       Propósito – A empresa precisa saber por que ela existe, quais são seus valores e a diferença que ela pode fazer no mundo.

2.       Liderança – O bom líder é aquele que não se envolve apenas com as questões práticas e burocráticas. Ele cuida das pessoas e do planeta.

3.       Stakeholders – São todos os colaboradores envolvidos no processo da empresa. E todas eles devem estar no foco de atenção da empresa. O stakeholder é o fã interno da empresa.

4.       Cultura e valores – Só assim é possível perpetuar a história de uma empresa.

O capitalismo consciente rechaça a ideia de que uma empresa só existe para fazer dinheiro. “Se fosse assim, lá em 1908, Henry Ford não teria dito que uma empresa triste é uma empresa que existe só para gerar lucro”, lembrou Hugo. “No fundo, no fundo, a gente serve para gerar riqueza; para curar uma dor da sociedade.” Para ele, uma empresa de impacto positivo responde a três perguntas básicas: por que existo; que diferença faço; e, se eu desaparecer amanhã, quem vai sentir falta. O diretor geral do Instituto Capitalismo Consciente citou uma carta de Larry Fink, CEO da Blackrock, o maior fundo de investimentos do mundo, aos CEOs das empresas investidas: “Para prosperar todas as empresas têm de gerar além do resultado financeiro, um impacto social importante”.

Para Hugo, não importa o que se comercialize, fabrique ou que tipo de serviço preste, o negócio de todos os negócios está nas pessoas –“cuide delas e elas cuidarão de você”, costuma dizer. O sucesso a longo prazo de uma empresa que segue os moldes do capitalismo consciente supera o das companhias do capitalismo selvagem.

Frequentemente perguntam a Hugo como colocar o capitalismo consciente em prática. Ao que ele responde com “liderança, liderança, liderança”. O líder consciente tem entre seus preceitos mais básicos a integridade, honestidade, transparência, ética, amor e cuidado e empatia. Nesse momento, Hugo fez um apelo às mulheres: “As senhoras presentes ajudem os líderes masculinos. Eles têm medo de colocar o amar e o cuidar no dia a dia dos negócios”. Para ele, o negócio é reflexo de sua liderança. As pessoas são reflexo de seus líderes, “portanto se vocês querem transformar seus negócios, têm de transformar a si mesmos”, concluiu.

Muitas empresas podem, ao longo de sua história, perder propósitos. Hugo cita como exemplo o Wal-Mart, maior rede de varejo físico do mundo. Inaugurada em 1962, até cinco anos depois da a morte de seu fundador Sam Walton, em 1995, aos 74 anos, a empresa conseguiu manter alguns princípios que, com o tempo, perderam-se. Hugo considera sintomático que, hoje, o salário mais alto na companhia seja equivalente a 1350 vezes o salário mais baixo. A título de comparação, numa das empresas símbolo do capitalismo consciente, a Whole Foods, rede de supermercados americanos famosos por vender produtos orgânicos e prestigiar produtores locais, os vencimentos do CEO são apenas 19 vezes maiores que o do operador de caixa. “Sucesso não deve ser medido apenas por fama e grana, mas pela forma como você trata as pessoas”, disse Hugo, citando um de seus lemas preferidos. O FICE 2018, organizado por Época Negócios, Pequenas Empresas & Grandes Negócios e Valor Econômico, vai de 4 a 6 de dezembro, em São Paulo.

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Hugo Bethlem
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Hugo Bethlem

Formado em Administração de Empresas e Ciências Contábeis pela FMU – SP, com Cursos de especialização em Gestão e Empreendedorismo em Cornell - USA, Babson - USA e FGV – SP, Estrategia e Conselhos de Administração no IMD – Suiça. Palestrante nacional e internacional e professor convidado na FGV e FDC.

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