Querendo ou não, vivo às voltas com dissertações e teses acadêmicas, e percebo uma constante. Quando se trata de ir às coleções de jornais em busca de assuntos referentes aos anos 60, a maior fonte de pesquisa é o extinto “Jornal do Brasil”. Fonte mais que respeitável, claro. Mas, na mesma época e até muito antes, havia também o “Correio da Manhã” –que, para os pesquisadores, é como se não tivesse existido.
Um livro novo, “Moda e Revolução nos Anos 1960” (Contracapa/ Faperj), da historiadora Maria do Carmo Teixeira Rainho, rompe esse muro. Não apenas se baseia na coleção do “Correio da Manhã” daquele período, como demonstra que, pelo tratamento da fotografia no jornal, pode-se entender a transformação por que passou então a moda feminina.
Na primeira metade da década, a moda era “adulta”. Saía das confecções para as passarelas, vestida pelas grandes modelos, como Georgia Quental, e era fotografada por especialistas como George Gafner, sendo o seu destino final o caderno feminino. A partir de 1966, com a pílula, a minissaia, as calças compridas e uma nova postura da mulher, a moda ficou “jovem” e passou a se dar também nas ruas.
Com isso, migrou do caderno feminino para a reportagem geral, e seus fotógrafos eram os mesmos que cobriam as guerras dos estudantes contra a ditadura: Osmar Gallo, Fernando Pimentel, Antonio Andrade, Gilmar Santos, Sebastião Marinho, Paulo Scheuenstuhl e muitos mais. Eles saíam para cobrir os quiproquós e registravam uma revolução no comportamento.
A bela foto da capa, tirada do “Correio da Manhã”, mostra uma menina de minissaia, meias ¾ brancas e sapatinho de salto, atirando uma pedra durante uma passeata. Era 1968, e ela podia ser uma de minhas colegas de faculdade. Estava desbancando Georgia Quental e não sabia.