Em 2014 o Brasil entrou em recessão – que veio a se tornar uma das maiores de sua história. A desigualdade voltou a subir, e a pobreza a aumentar. Os anos de políticas econômicas populistas, como as intervenções no setor elétrico e a tentativa de baixar a taxa de juros solapando a autonomia do Banco Central, além de diversos programas sociais sem lastro e qualquer retorno social, finalmente começavam a cobrar seu preço.
Foi nesse contexto que o economista Ph.D pela Universidade de Chicago Paulo Rabello de Castro lançou a obra “O Mito do Governo Grátis”: um veemente ataque a governos e políticas populistas. Ele dizia que o modo mais eficaz de controle social não era pelas armas, mas “pelas promessas impossíveis de haver um governo grátis”. Vender que existiria a possibilidade de “almoço grátis” seria uma espécie de “ilusionismo político”, um adversário à prosperidade e à ascensão social dos brasileiros.
Ao longo da obra ele analisa diversos erros cometidos pela União e Estados brasileiros, além de debruçar-se nas lições de 13 países que poderiam ser aprendidas e utilizadas no caso brasileiro para haver um “turning point”, um ponto de virada para que o país supere o populismo. O alerta de Rabello estava dado.
Veio 2015 e o agravamento da crise econômica. 2016 e o impeachment de Dilma Rousseff. Rabello foi convidado para integrar o novo governo de Michel Temer e presidir o IBGE. A partir daí, o liberal Rabello de Castro passou a colecionar diversas páginas cinzentas em sua biografia.
O BNDES tinha sido expandido durante a era do lulo-petismo em cifras que custaram ao pagador de impostos brasileiros entre 300 e 400 bilhões de reais. Maria Sílvia Bastos assumiu o banco no início do governo Temer com propostas de reformas. Contudo, foi duramente criticada por empresários pela acertada medida de fechar a torneira de crédito subsidiado. Pressionada, acabou dando lugar a Paulo Rabello de Castro.
Uma de suas primeiras medidas como presidente do BNDES foi manifestar-se contra a TLP, que pôs fim aos empréstimos com generosas taxas ao empresariado custeadas por toda a sociedade. Nesse embate ele fez coro ao Senador José Serra e a FIESP. Dois dos diretores de perfil mais técnico do banco renunciaram ao cargo em protesto a Rabello.
Em seguida, o chicaguista recusou-se a devolver 130 bilhões de reais ao Tesouro Nacional, ignorando a vontade da União, controladora do banco. Para agradar aos funcionários do banco que presidia, mudou a política de sua antecessora, que fechou escritórios do BNDES no exterior e decidiu que o banco deveria abrir mais sedes regionais pelo país.
Rabello teve a oportunidade de diminuir as transferências do Estado para empresários bem relacionados – tudo que defendia anteriormente – mas sua retórica definhou diante da prática.
Ainda em 2017, o Partido Social Cristão voltou seus olhos ao então presidente do BNDES. O desejo do partido era lançar algum candidato à presidência, tendo para tanto convidado Rabello. O economista aceitou a proposta e desfiliou-se do partido Novo, ao qual era filiado. Deixou a presidência do banco a fim de viajar pelo país em busca de apoios para sua candidatura.
Perante a Revolta dos Caminhoneiros, a sedução pelo poder tornou-se ainda mais evidente em Rabello. Ao falar sobre a política de preços da Petrobras sob a administração de Pedro Parente, criticou a liberalização do mercado e a ideia de privatizá-la, afirmando que “os neoliberais querem destruir a Petrobras”.
Ele, que no passado escreveu sobre a Petrobras afirmando que “os grupos de interesse têm sempre levado a melhor dentro da empresa”, endossou um grupo de interesses contra a companhia.
Ele, que há apenas 4 anos criticava na página 58 de seu livro o fato de a Petrobras ter “comprometido suas receitas subsidiando o preço de combustíveis por imposição do governo”, agora colabora com a mesma narrativa de outros presidenciáveis como Ciro Gomes e Guilherme Boulos. Tudo em busca de alguma projeção política.
Rabello de Castro cedeu justamente ao populismo que tanto criticava e, cada vez mais, defende o contrário de tudo que escreveu. O historiador britânico Lord Acton estava coberto de razão ao dizer que o poder corrompe.