Ricardo Voltolini
Ricardo Voltolini, jornalista, especialista em planejamento em comunicação organizacional, com ênfase nas modalidades de marketing institucional, educacional e social.
Vídeos
Artigos
Valores definem uma carreira de valor
O que eu vou escrever aqui, querido seguidor, você não lerá em nenhum blog ou revista de negócios: a importância dos valores para a construção de uma carreira. Este não costuma ser um tema presente nos artigos de início de ano, escritos para orientar jovens profissionais sobre tendências do mercado de trabalho. Por isso, peço que, subversivamente, você o faça chegar ás pessoas do seu círculo mais próximo. E, assim, ajude a conspirar por um mundo corporativo melhor.
Ressoa na minha memória, viva e forte, a frase com que fui recebido, há 30 anos, pelo meu primeiro empregador: “Competente, bem formado e responsivo você é. Preocupa-me esse seu excesso de idealismo. Para ter sucesso aqui terá de deixar os seus valores lá fora, na porta de entrada.”
À época, entendi o alerta como uma espécie de ameaça. Não era. Usando um tom paternal, beirando o zeloso, o sujeito queria, no fundo, que eu não me frustrasse com decisões nem sempre muito éticas que a empresa, segundo ele, era “forçada” a adotar para se “manter no mercado.” Por isso, disse, recomendava que eu simplesmente aceitasse as “regras do jogo”, sem tentar julgá-las sob a perspectiva de qualquer viés moral. Não havia espaço—e isso ele deixou bem claro-- para tratar, por exemplo, do que ele chamava de “modinhas” como a sustentabilidade, um assunto com o qual eu já namorava, ainda que não soubesse direito o nome nem o conceito por trás dele.
A sustentabilidade deixou de ser “modinha.” Seus preceitos ganharam status estratégico nas empresas contemporâneas. Os valores ascenderam á condição de atributos. Trinta anos depois, ironicamente, este mesmo consultor que, no início da carreira, foi censurado por suas inclinações idealistas, tem sido contratado por empresas para falar às jovens lideranças que seus valores pessoais e suas convicções éticas são muito bem vindos nas organizações. Mais do que isso, são contribuições fundamentais nesses tempos de employer branding em que as organizações se esforçam para ser mais sustentáveis, mudando processos, práticas e estratégias no sentido de construir interfaces entre os interesses do lucro e os do planeta e da sociedade.
Nem sempre, é verdade, o conceito de sustentabilidade tem sido tratado com a devida profundidade na maioria das empresas. Nas que se dispõem a inseri-lo na gestão, na estratégia e na cultura, arrisco dizer, por experiência vivida, que ele serve como vetor para reumanização dos negócios, reflexão sobre limites éticos e, sobretudo, autoanálise dos dilemas de um sistema econômico com falhas já reconhecidas, que gera riqueza, mas esgota recursos naturais, trata gente como mero recurso, produz mudanças climáticas e desigualdade social. Eis aí, portanto, uma ótima oportunidade para quem tem crenças firmes e pauta sua vida por elas.
Se você, jovem profissional, já fez ou faz algum tipo de trabalho voluntário, exercitando solidariedade, cooperação, altruísmo, escuta ativa e interesse pelo outro, esteja certo de que isso será visto, cada vez mais, como uma competência desejável e valorizada nas empresas. Contará pontos.
Se você se rebela diante de qualquer forma de desperdício – de tempo, energia, água e outros recursos naturais – e gosta de fazer mais com menos, por convicção, festeje. Chegou a sua vez.
Se você compreende que a atividade empresarial gera impactos socioeconômicos positivos e negativos e que é seu dever reduzir ou eliminar os segundos, está pensando exatamente como as melhores empresas e os mais respeitados líderes.
Se você valoriza a diversidade por princípio, convive bem com a divergência de opiniões, evita julgamentos baseados em preconceitos, pratica virtudes aristotélicas como a verdade e considera a transparência um valor importante, então possui diferenciais de comportamento crescentemente bem-vindos.
Nunca é demais lembrar: formação acadêmica é e sempre será fundamental, até porque – como já disse a sabedoria popular – sem competência não se estabelece. Mas os valores que formam o seu caráter, a sua atitude, o seu propósito, a maneira como encontra significado em seu trabalho também são. Saber ser é, portanto, tão importante quanto saber fazer. Valores geram valor econômico
Entendo aqueles que, a esta altura do texto, enxerguem neste consultor um ingênuo juramentado. Mas o que digo se baseia em conversas profundas com os mais importantes CEOs e lideranças empresariais do país. Se você trabalha numa empresa que não valoriza os seus valores – pior até, que não tem valores fortes, associados à sua cultura, e conhecidos de todo o quadro de funcionários – está na hora de procurar um lugar de mais futuro.
