Pedro Waengertner

São Paulo/SP
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Pedro Waengertner

É professor há mais de 17 anos, ministrando disciplinas de marketing e digital no MBA da ESPM. Acredita que é possível colocar o Brasil no mapa da inovação mundial e dedica sua carreira para esta causa.


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Diversidade: indo além do óbvio

Diversidade: indo além do óbvio


Diversidade é um assunto difícil de abordar, pois traz junto várias ideias arraigadas em nossa cultura. 

Falar que temos que ter um time diverso virou clichê nos departamentos de RH e bancos de imagem. Milhões de reuniões com agências ao redor do mundo discutem como as empresas devem ser representadas em fotos promocionais. Virou um concurso para ver quem cobre mais etnias em uma foto.

Falando de justiça social, eu sou absolutamente a favor de contratarmos times mais diversos. Moralmente é a nossa obrigação como capitalistas conscientes. Sim, alguns de nós, capitalistas, somos do bem e queremos fazer um mundo melhor. 

Mas o mundo não segue a lógica dos justos (infelizmente). Segue a lógica do que funciona, do que é melhor para as pessoas e os negócios.

Para que apenas uma minoria da população comece a fazer o bem, ou cria-se leis punitivas ou o benefício em usar alguma coisa melhor é tão bom que o comportamento se altera.

As multas são um exemplo de ação punitiva. Se não tivéssemos leis de trânsito e punições aos infratores, viveríamos no mundo do Mad Max. Mas também podemos olhar pelo lado do que é melhor para as pessoas.

É assim com carros. Todos sabem que carros fazem mal para o meio ambiente. No entanto todos continuam comprando carros maiores e mais gastadores. Até que o Elon Musk cria a Tesla e faz carros elétricos melhores do que qualquer outro carro movido a gasolina. Eu quero meu Tesla, pensam os aficionados. Aos poucos a matriz energética muda. Mas isso acontece porque um empreendedor descobriu uma forma de casar as duas coisas.

É assim com alimentos. Existe uma parcela pequena da população que é vegana. Que não tolera a maldade feita com animais, que vê o impacto no meio ambiente. Mas mesmo assim a maior parte da população continua comendo animais mortos todo dia. Com o aumento populacional, temos um problema e uma grande oportunidade pela frente. Como alimentar esse monte de gente sem destruir o planeta? Novamente, empreendedores estão criando carne sintética, feita a partir de vegetais. Algumas já estão a venda nos EUA. Em breve, não conseguiremos diferenciar um bife de vaca de um sintético. Bora comer carne sintética e fazer o bem.

É justo? Não. Mas é como nós somos.

Ok, e a diversidade. Ela realmente ajuda a empresa? 

É aí que as coisas ficam interessantes. A resposta é: depende.

Em seu ótimo livro The Difference, Scott Page fala sobre a diversidade sob a ótica da performance corporativa. E o que ele fala, eu não poderia concordar mais.

A diversidade de raça, religião, sexo, etc. não são a forma correta de encarar o tema. Precisamos enxergar a diversidade cognitiva! Ou seja, a diversidade está ligada a:

  • Perspectivas Diversas - a maneira como olhamos o mundo;
  • Interpretações Diversas - a maneira como o nosso olhar altera a forma de entender o mundo;
  • Heurísticas Diversas - As diferentes maneiras com que resolvemos problemas;
  • Modelos Preditivos Diversos - a maneira como analisamos a situação. 

Isso está dentro dos nossos cérebros. Por isso chamamos de Diversidade Cognitiva.

A única forma de obtermos este tipo de diversidade é trazer pessoas com diferentes criações, realidades e maneiras de olhar o mundo. E isso está diretamente ligado a raça, sexo e todos os outros fatores que compõem a nossa visão tradicional de diversidade. Ou seja, existe uma correlação entre o exterior que conseguimos ver e a probabilidade de estas pessoas pensarem diferente. Mas não precisa parar ai. E os introvertidos e extrovertidos? Também são duas formas de experimentar o mundo. Existem mais variáveis do que imaginamos na composição da diversidade.

Voltemos ao tema: diversidade é boa para os negócios?

Para alguns, ela é fundamental. Para outros, a correlação é fraca.

Quando falamos de inovação, em descobrir novos caminhos e resolver problemas, este tipo de diversidade é fundamental. Nestas situações, temos um grande grau de incerteza e o que vai acontecer com o mercado é absolutamente imprevisível. Os desafios que estamos enfrentando hoje são inéditos em diversos níveis:

  • Marketing - Nunca tivemos tantas ferramentas e opções para interagir com nossos clientes. 
  • Produto - O que antes era apenas o pensamento em relação ao produto em si passa agora por questionamentos sobre o modelo de negócio e canais de distribuição, além do impacto do digital.
  • Recursos Humanos - As startups trouxeram novas fomas de atrair, recrutar e selecionar os melhores talentos.
  • Inovação - O que antes era uma área da empresa, precisa estar conectada com tudo o que a empresa faz. Como envolver todas as áreas em um processo constante de inovação e ao mesmo tempo manter o crescimento e lucratividade nos negócios atuais?

Segundo Page, este tipo de cenário se beneficia muito da diversidade cognitiva, pois várias heurísticas, interpretações, modelos preditivos e perspectivas nos ajudam a ver o mesmo problema por vários ângulos. E muito da inovação está na forma como abordamos o problema.

Se estivermos falando de um funcionário que frita batatas no McDonalds, provavelmente este tipo de diversidade terá pouco impacto no resultado final. O funcionário apenas segue uma lista de tarefas. Este tipo de empresa precisa desenvolver políticas para garantir que está trazendo um time diverso. 

Estamos vivendo a era dos problemas difíceis e dos caminhos que nunca ninguém trilhou. Os filmes de super heróis nos mostram sempre este cenário, onde um grupo que pensa completamente diferente usa seus diferentes poderes e pontos de vista para derrotar o inimigo. Frequentemente vemos que a solução não está na combinação dos super-poderes, mas da maneira de pensar do grupo.

Está na hora de começarmos a pensar em diversidade como uma vantagem competitiva e não como algo que colocamos em nosso relatório de sustentabilidade no final do ano. É hora de começarmos a olhar a diversidade além do óbvio, além da foto do banco de imagens. Diversidade deve ser encarada como ciência, como forma de aumentar a performance das companhias. Devemos olhar para o cérebro dos nossos colaboradores.

Se mais empresas perceberem que isto é bom para os negócios, conseguiremos ir muito mais longe.

 

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