Desde o lançamento do meu livro “Faça a Diferença!”, tenho apresentado e discutido com centenas de pessoas o conceito de poder pessoal, que é a afirmação do “eu posso”. Poder pessoal é ter nas mãos as rédeas da própria vida. É ter auto-estima elevada. É estar harmonizado e em equilíbrio. É sair do papel de vítima. É aceitar as coisas como elas são.
E é nesta última parte, o aceitar as coisas como elas são, que as pessoas geralmente discordam energicamente do conceito. “Como posso ter poder pessoal e aceitar as coisas como elas são?”, “Aceitar não significa ficar parado e passivo?” são as perguntas mais comuns. Aceitar é confundido com passividade, com paralisia, com falta de interesse ou com falta de ação; o conceito na realidade é exatamente o inverso, pois quando eu aceito as coisas como elas são, eu resgato minha força e poder de transformar.
Aceitar não quer dizer que eu possa fazer as coisas voltarem a ser como eram. Aceitar não significa estar feliz e contente com os acontecimentos. Aceitar não é aprovar o ocorrido. Mas aceitar significa ficar aberto às mudanças, a rever referenciais e formas de perceber e agir. Quando isto ocorre saímos do papel de vítimas das circunstâncias, para podermos realizar com disposição as mudanças que precisam ocorrer.
Quando não aceito integralmente, com a mente e o coração, estou tentando, muitas vezes em desespero, restaurar o padrão ou situação anteriores, que talvez eram cômodos e confortáveis. Aceitar significa abrir-se à mudança.
Estou lendo com muito entusiasmo o livro “Um dia minha alma se abriu por inteiro”, de Iyanla Vanzant, da Editora Sextante. Neste livro é feita uma citação de James Baldwin, que diz “você não consegue consertar o que não consegue encarar”. Esta é uma grande e fundamental verdade: como consultor tenho visto tantas empresas investirem muito dinheiro em programas que não levam a nada, pois seus dirigentes não conseguem encarar a realidade de suas organizações e detectar as verdadeiras causas de suas dificuldades. Como terapeuta em processos de counseling fico muitas vezes estimulando o cliente a não ficar “rodeando” os temas centrais, não querendo ou podendo encarar de frente as causas de sua indecisão, irritação ou depressão.
O encarar e aceitar a dificuldade que estamos vivenciando é o primeiro e decisivo passo para tomar as decisões certas para as mudanças. Num tempo como o nosso, de rápidas e profundas mudanças, deixar de aceitar a realidade é abdicar do direito de fazer escolhas conscientes. Aceitar uma realidade é como ingressar num rito de passagem: deixar o velho e ingressar no novo. A aceitação é um aviso que nos diz que agora é preciso mostrar fibra e coragem. É um presente que nos convida a agir.
Cynthia Kemp Scherer tem afirmado tantas vezes “everything is perfect” (tudo está perfeito). Eu levei muito tempo para entender que a perfeição não significa “obra acabada”, mas antes que a sabedoria de todos os momentos, que são perfeitos, significa que a pessoa está passando pela experiência que tem que passar e que o Universo a presenteia com a oportunidade de decidir o que tem que ser decidido e agir, realizando as ações que necessitam ser tomadas. Tudo está perfeito significa você aceitar totalmente a experiência que está passando e agir em cima disto, mobilizando as ações que precisam ser tomadas. Aceitar a realidade como ela é significa olhar para o futuro, para as transformações que precisam ser concretizadas. Só assim as pessoas, equipes e organizações se desenvolvem; a não aceitação significa ficar patinando na busca de soluções que no máximo irão resolver momentaneamente os efeitos, mas não solucionar as causas.
Gustavo G. Boog é Diretor e Fundador da Boog, desde 1983. Consultor e Terapeuta Organizacional conduz palestras e workshops em temas motivacionais e gerenciais, Projetos Organizacionais e Coaching.
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