Quantas vezes não ouvimos muitos pais de mais de um filho soltarem a célebre frase: “Tiveram a mesma Educação, mas são tão diferentes. ” Essa simples constatação, tão corriqueira em nosso cotidiano, no fundo está carregada (de um modo simples, é claro) de um conceito antropológico básico: cada pessoa humana é um ser único e irrepetível, dotada de aptidões, sentimentos e afetos muito individuais. Isso significa que cada indivíduo é capaz de dar as mais variadas respostas ainda que se sujeitem às mesmas experiências desde os primeiros momentos após o nascimento.
Somos dotados das mesmas potências humanas – razão, vontade e sentimentos –, possuímos a mesma dignidade moral e ética, temos os mesmos direitos e deveres diante da sociedade. Entretanto, jamais se conseguirá encontrar uma maneira única educar que atenda igualmente a todos os seres humanos, como uma receita de bolo ou um manual de instruções. Depois de séculos de investigação filosófica e antropológica não conseguimos compilar uma única resposta para a formação da pessoa humana e o que deveria ser um paradoxo, no fundo apenas constata que não podemos ser colocados nas mesmas fôrmas.
Nas últimas décadas, os modelos educacionais visaram atender à massa populacional, então carente de uma formação escolar mínima (tal como ainda hoje encontramos). Esse modelo, conhecido como “Educação de Massa”, abriu acesso ao ensino à uma grande parcela da população e não restam dúvidas que graças a ele foi possível a democratização do ensino e um notável avanço diante de problemas educacionais. Entre esses avanços, podemos pensar na redução das taxas de analfabetismo em países em desenvolvimento, o acesso à informação e às possibilidades de ascensão social, sobretudo daquelas camadas da sociedade que outrora não possuíam condições econômicas de sustentar um ensino particular. Soma-se a isso, a crescente quantidade de pessoas que, nos últimos tempos, conseguiram completar o Ensino Médio e os cursos superiores como prova dos frutos que o modelo até hoje vigente ofereceu à sociedade.
Todavia, um projeto educacional pautado no “quanto mais, melhor”, possui suas limitações e gera outros tipos de dificuldades, as quais precisamos encontrar alternativas urgentes. Apesar do crescimento quantitativo, vemos que a qualidade da formação cultural e intelectual não acompanhou o progresso que se esperava, basta lembrarmos que, como consta em pesquisa recente, quase metade dos universitários no Brasil possuem graves déficits no domínio elementar da norma culta da língua portuguesa ou dos baixos resultados dos nossos estudantes nos exames internacionais.
Por se pautar no aspecto mais quantitativo do que qualitativo, uma consequência quase que natural foi a queda no nível de formação intelectual oferecida aos estudantes de todo o país. Deixou-se um pouco de lado a busca por uma formação completa do indivíduo e se buscou oferecer o básico para a maior quantidade de pessoas possíveis. Se hoje em dia as taxas de escolaridade melhoraram, em contrapartida o cenário educacional demonstra que a qualidade do ensino que se oferece seguiu o caminho oposto.
Considerando a urgência da melhora na qualidade da Educação oferecida e a capacidade única que cada pessoa possui em desenvolver suas habilidades, o conceito de Educação Personalizada vem ganhando força entre alguns especialistas, pois se percebe que as estratégias educacionais adotadas não consideraram algo de essencial na formação de qualquer indivíduo: a sua condição de pessoa.
Na Educação Personalizada, a metodologia e as práticas do professor em sala de aula passam a levar em consideração as potencialidades e as limitações de cada aluno em particular, procurando explorar aquelas aptidões que possui de melhor e trabalhar mais intensamente aquelas que lhes custam mais. Trata-se de levar para a prática educativa algo mais do que um método de ensino, mas uma concepção mais profunda sobre o Homem que é a sua condição de pessoa.
Ao explorar as habilidades naturais próprias de cada indivíduo, o resultado direto será a maior motivação em encarar a aprendizagem como algo agradável e útil para si, já que fortalecerá sua autoestima quando surgirem os bons resultados. Além disso, quando se trabalha de modo personalizado suas limitações, o professor pode traçar gradativamente o avanço em suas dificuldades, propondo atividades que estejam ao alcance da suas capacidades, desenvolvendo o crescimento de modo contínuo e natural, por meio do aumento gradativo das dificuldades. Como os ritmos de assimilação e retenção são diferentes, fica claro que se deseja uma aprendizagem significativa, gerando um impacto nas práticas utilizadas pelos docentes.
Quando alunos com diferentes habilidades são submetidos a um mesmo processo de ensino e cobrança, logo se verá uma situação de desigualdade, já que corre-se o risco de cobrar demasiadamente de alguns ou de deixar de potencializar as habilidades de outros. Nenhuma dessas situações são boas para quem está em pleno processo de formação.
A Educação Personalizada de qualidade é aquela que demanda a identificação e o conhecimento dos hábitos comportamentais e das habilidades intelectivas de cada aluno. Nesse sentido, o ensino se sequencia diante de graus de complexidades, em vez de se oferecer algo único para todos. Além disso, em todas as áreas de conhecimento estão estabelecidas a aquisição de conteúdos e habilidades mínimas e de modo exigente, uma vez que só se tem Educação Personalizada mediante à conscientização do esforço que o aluno precisa criar diante suas limitações e dos desafios em explorar suas aptidões.
O diagnóstico de cada situação possibilitará ao professor o estabelecimento de objetivos mínimos ao corpo dos alunos e dos objetivos individuais a cada um individualmente, tendo em vista a ritmo de aprendizado de cada um. Assim, por exemplo, quando alunos que possuem mais rapidez no término de cada atividade, poderá receber desafios mais complexos acerca daqueles temas, demandando maior tempo de concentração, raciocínio e análise de um mesmo conteúdo, enquanto aqueles que tem mais dificuldades, continuarão em seu ritmo pessoal, contando com a tutoria do professor.
Outros diferenciais de uma autêntica Educação Personalizada são:
– A parceria família/escola como metodologia;
– Preceptoria periódica junto às famílias, traçando metas simples e objetivas a serem alcançadas no lar e na escola;
– Formação periódicas para as famílias;
– Educação oportuna, explorando os Períodos Sensitivos das crianças em cada etapa de crescimento;
– Tutoria pessoal, com acompanhamento periódico dos alunos nos inúmeros desafios ao longo do ano;
– Desenvolvimento de áreas de trabalho em equipe nas diferentes habilidades;
Não há utopia nesse modo de Educar/Ensinar, mas a exigência de um verdadeiro Zelo Educativo por parte dos docentes, ainda que compreendamos as grandes dificuldades que muitas vezes se impõem em salas de aula. O número excessivo de aluno como em determinados casos, a rotina exaustiva de boa parte dos professores, assumindo inúmeras turmas ao mesmo tempo e até a própria desvalorização salarial são graves problemas a serem enfrentados, mas não podem ser impedimento para a busca pela excelência profissional que propõe o modelo de Educação Personalizada.
Especialista em educação personalizada e diferenciada, João Malheiro é um educador preocupado com a formação integral, ética e religiosa da juventude. Doutor em Educação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), atualmente trabalha na fundação de uma escola de educação diferenciada no Rio de Janeiro. Também é diretor do Centro Cultural e Universitário de Botafogo
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