Minha relação com a GRI é antiga, desde quando eu era head de Sustentabilidade do Itaú, depois membro do Stakeholder Council da instituição em Amsterdam, membro e presidente na primeira formação do Conselho Consultivo Brasil, em várias parcerias bem sucedidas pela B3 e, agora, presidente do Conselho Consultivo GRI Brasil 2020.
A história pioneira do Hub Brasil, por sua vez, data de 2007, tendo sido o primeiro projeto piloto da GRI do tipo no mundo. Brasil sempre inovando na agenda da sustentabilidade. Desde então, a GRI criou mais 6 outros pontos focais: Colômbia, China, Índia, África do Sul, Singapura e Estados Unidos, levando a essas regiões uma atuação visionária que começou em 1997, sediada primeiro nos Estados Unidos e depois e até o momento na especial Amsterdam.
Traço todo esse histórico apenas para chegar ao momento atual em que montamos o Conselho Consultivo da GRI Brasil, que tive a honra de ter sido convidada a presidir.
Quais são nossas expectativas, ambições, sonhos?
Primeiro, sempre vale relembrar e reforçar as duas premissas básicas da GRI e que tornam essa organização tão especial e diferenciada: engajamento (real) de stakeholders e apoio às empresas na sua jornada de entender e comunicar seus impactos nos aspectos críticos da sustentabilidade, como trabalho escravo ou similar, mudança do clima e escassez de recursos naturais, entre tantos outros. Sempre de forma independente e neutra.
Desde quando a primeira empresa brasileira, a Natura, adotou o padrão GRI, nos idos de 2002 (base 2001), até os dias de hoje, quando 98% das empresas do Índice de Sustentabilidade Empresarial - ISE da B3 e 75% das 250 maiores empresas do mundo em receita também o fazem, um longo caminho de grandes conquistas se desenhou.
Hoje, não temos mais dúvidas de que:
É necessário fazer relatos empresariais incluindo, além das informações econômicas, também os dados ambientais, sociais e de governança;
Esses relatos precisam ser os mais “honestos” possíveis. Não há mais espaço para belas fotos e histórias felizes. É preciso que a empresa relate suas conquistas, sim, mas também seus desafios e o que não deu certo – e como ela lidou com esse fato, como corrigiu a rota e se tornou mais robusta para eventos futuros semelhantes;
É imperativo que os relatos sejam objetivos, com o maior número de dados quantitativos e utilizando um framework mundial, passível, portanto de comparação;
Tais documentos se tornaram para várias iniciativas de mercado – como ratings, rakings ou índices de sustentabilidade – condição para a empresa os integrar ou fator de diferenciação positiva;
Esses relatos são cada vez mais são consultados por diferentes stakeholders. E um deles, o investidor, chega forte no jogo – falarei mais disso adiante.
Se já entendemos tudo isso, com qual desafio se constitui o nosso Conselho? Chegando num cenário pós declaração da Business Roundtable, carta anual do CEO da BlackRock, Larry Fink e o capitalismo de stakeholders do Fórum Mundial de Davos, o Conselho Consultivo da GRI Brasil tem como missão auxiliar a instituição na definição de estratégias para:
- fortalecer a transparência empresarial no País;
- melhorar a qualidade das informações divulgadas;
- aumentar a participação dos stakeholders no ecossistema da transparência, especialmente os “não convertidos”.
Em outras palavras, queremos que as informações ganhem em qualidade, já que a etapa de convencimento sobre a necessidade da divulgação já passou. E queremos fazer isso fortalecendo a premissa da transparência empresarial e do engajamento de atores ainda não tão envolvidos na agenda da sustentabilidade, que chamamos no meio de “não convertidos”.
E é neste momento que chego a um ponto muito importante na composição do nosso Conselho, que é a participação de investidores.
Os fatos que elenquei acima mostram que o poder financeiro entendeu a lógica do impacto e da oportunidade dos fatores ESG – Enviromental, Social e Governance, na sigla em inglês.
Chegamos, enfim, ao mundo que tenho chamado de EESG – Economic, Enviromental, Social e Governance. Não há mais como separar. Todos esses fatores impactam o business e estão cada vez mais interligados. Ter a voz dos representantes dos investidores no nosso Conselho traz a visão, enfim, que faltava para juntarmos as 4 letrinhas mágicas.
E, como ninguém faz nada sozinho, temos também representantes da sociedade civil, academia, especialistas, parceiros globais e locais da GRI e membros da governança da GRI em Amsterdam. Todos muito motivados e determinados a colaborar na construção de mais um belo capítulo da GRI no Brasil. Capítulo liderado desde o início pela incrível pessoa e profissional, Glaucia Terreo.
Volto, agora, ao início do meu artigo para responder, então: “Quais são as nossas expectativas, ambições e sonhos com o Conselho?”.
Expectativa de colaborar de forma genuína, questionadora e propositiva com as estratégias da GRI. Ambição de elevarmos ainda mais o patamar da qualidade das informações ESG no Brasil, colocando-o, por que não, como um referencial mundial e atraindo mais investidores para essas empresas. Sonho? De que a comunicação - que é minha profissão e paixão - entre empresas e mercado se torne cada vez mais fluida, útil, agradável e valorosa, tendo os standards GRI como ferramenta de apoio, inspiração e parceiros neste belo caminho.