A Síndrome de Armstrong
Eu estava vendo TV com meu filho Gabriel quando passou a notícia sobre o caso do Lance Armstrong, que confirmou para a Oprah Winfrey, sobre ter mentido e realmente ter usado doping, criando durante anos uma carreira e princípios totalmente irreais.
Na hora o Gabriel me fez a pergunta que não tem resposta: “Por que ele fez isso pai? Por que ele teve que mentir para as pessoas?”. Foi a oportunidade dos Deuses ele ter me perguntado isso. Acho que a fábula do menino e o lobo poderia ser substituída pela atual história do Lance Armstrong.
Eu respondi para ele:
- Gabriel, ninguém tem que mentir. Isso é opcional. A verdade é mais fácil, simples e rápida. Só que nem sempre traz glória, fama e dinheiro. Qual seria o gosto de você me mostrar boas notas no boletim e saber que no fundo foi tudo resultado de cola?
Um silêncio se instalou na conversa e ele me solta.
- Pai, isso é uma acusação?
- Não claro que não Gabriel, estou apenas dando um exemplo.
- Então, porque de vez em quando, muito quase que nunca, quando eu esqueço tudo que estudei, eu dou uma olhadinha na prova do meu amigo, para não tirar zero. Como estou falando a verdade, sei que vai me entender.
Claro que não esperava ouvir essa resposta, mas serviu ao propósito a história do Lance Armstrong. Mais real e com feedback imediato, impossível.
Estamos vivendo a era da Síndrome do Armstrong, em vários níveis da sociedade. São empresas clonando empresas (vide as brigas de patentes mundo a fora), são corruptos aparecendo por todos os lados, são os taxistas que fazem um caminho “alternativo” para ganhar mais, são as pessoas que vivem uma vida que não é delas, etc.
Acho que o pior nível da Síndrome do Armstrong é o individual, onde você já não vive mais aquilo que deveria viver e tudo ao seu redor se torna uma fábula.
Um exemplo é aquele cara que trabalha demais para ter qualidade de vida, mas quando chega em casa vive cansado, dormindo pelos cantos, não faz esporte, não viaja, não sai com a esposa, etc. O pior é que nem se repara mais que é tudo uma mentira.
Mais profundo do que mentir para si mesmo, é a perda completa e total do propósito. Perdidos dentro de si mesmos sem saber ao certo o que é certo. Intrigante não?
Este ano lancei um curso que tinha muita vontade de fazer, voltado exclusivamente a empreendedores. Depois de dois dias intensos ainda teremos mais alguns encontros e de empresário para empresário, discutimos problemas, soluções, diferenças e similaridades em negócios totalmente diferentes.
Falamos sobre viver os valores na empresa, de verdade, não aqueles que ficam nos quadros ou que achamos que vivemos. Colocamos no site somos os melhores em preço; A TV que coloca você no futuro Hoje - GVT; atendimento imediato as necessidades, etc, enquanto que, na verdade, vivemos apenas o que é o mais fácil, prático e sobre o que ninguém vai reclamar. É normal isso acontecer com as empresas, o mercado muda e precisamos atualizar nossos propósitos.
Refleti bastante sobre isso no final do ano. Revisei os valores das minhas empresas, revisei minhas metas, meus planos de expansão no exterior, reduzi a meta de palestras no ano, reduzi o volume de empresas que quero participar, etc.
Ah, é fácil trabalhar com metas quando se tem dinheiro, você pode pensar. Mas a questão não é dinheiro, pois às vezes, trabalhando menos você pode ganhar mais se botar sua inspiração para funcionar. É uma questão de manter a qualidade de vida, o tempo para fazer um esporte, ficar com a família, viajar nas férias, criar novos produtos, e por aí vai.
Para mim, por exemplo, viver aquilo que ensino para as pessoas é meu valor, é o valor da Triad PS, da Neotriad e das pessoas que trabalham comigo. É mais fácil ser assim, do que viver como o Armstrong, em cima da uma bicicleta com risco do vento derrubar, e derrubou!
Use a entrevista do Lance Armstrong com seus filhos, seus funcionários, seus amigos. Discuta esse assunto, muitas fichas podem cair. Afinal, colar de vez em quando não vai matar ninguém, mas colar a vida toda gruda o caráter com o errado.
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