Em meu primeiro livro, Reinventando Você, lançado na virada do milênio, dissertei sobre a construção de diferentes mercados do conhecimento, fundamentais ao desenvolvimento profissional e à sobrevivência da sociedade capitalista.
Naquela ocasião, analisei o ensino convencional, de natureza escolar, e também os programas de ensino à distância, à época ainda questionados por gestores e acadêmicos.
Destaquei também a necessidade de uma educação interdisciplinar, ao mesmo tempo conceitual e instrumental. Referia-me, sobretudo, a um tipo de ensino que capacite o indivíduo a aprender de forma contínua, enquanto viver.
Recorto uma frase da obra: “hoje, a tela do computador é a sala de aula global, de infinitas possibilidades, pela qual se pode obter instrução de alto nível e imersão total nos temas”.
De lá para cá, a Internet se desenvolveu tremendamente e alcançou as mais remotas localidades. O Google, fundado em 1998, e ainda tímido à época, tornou-se um motor planetário de construção de conhecimentos.
Mas por que digo “construção”? Pois o mecanismo de busca não oferece respostas prontas às perguntas da coletividade mundial. Ele liga os pontos, ou seja, sugere a informação que pode atender àquela demanda.
No moderno mundo digital, o conhecimento é construído gradualmente pelo emissor e pelo receptor, em um processo de depuração, seleção, absorção e, quase sempre, de posterior compartilhamento.
Na época do lançamento de Reinventando Você, a ideia iluminista dos enciclopedistas franceses foi reinventada por Jimmy Wales e Larry Sanger, que criaram a Wikipédia.
Na época, muita gente duvidou que o projeto prosperasse. Havia que ainda relutasse em admitir a revolução em rede. Muita gente apostou na vitória das versões impressas da Barsa ou da Britânica.
Duvidava-se de que uma enciclopédia pudesse ser redigida, todos os dias, por gente diferente, sem um comando central direto. “Vai virar uma bagunça”, advertiu um. “Como acreditar nisso?”, pontuou outro.
No entanto, magicamente, a Wikipédia cresceu, aprimorou-se e virou uma fonte de referência básica para a humanidade. Enfrentou problemas, sim, mas auto-organizou-se e, aos poucos, criou métodos de controle de qualidade. E o mais incrível: possibilitou que qualquer pessoa divida conhecimento pelo canal.
A Wikipédia afirma que sua missão é “gerar empoderamento e engajar pessoas pelo mundo a fim de coletar e desenvolver conteúdo educacional sob uma licença livre ou domínio público, para disseminá-lo efetiva e globalmente”.
Quando produzimos este artigo, o sistema disponibilizava mais de 43 milhões de artigos, em 277 idiomas.
O debate em torno do “mercado do conhecimento” ganhou destaque no fim dos anos 1990, com o lançamento do livro Capital Intelectual, a Nova Vantagem Competitiva das Empresas, de Thomas A. Stewart, que depois se tornaria editor-chefe da Harvard Business Review.
Segundo ele, em uma época marcada pela mudança rápida e constante, as empresas precisariam saber se reinventar permanentemente se quisessem se manter necessárias, relevantes e lucrativas.
Stewart nos chamou atenção para o seguinte: diferentemente dos produtos tangíveis, o conhecimento pode estar em dois lugares ao mesmo tempo. Quando vendido, não reduz o estoque. E mais: uma vez difundido, tende naturalmente a replicar-se, aperfeiçoando-se enquanto circula nos ambientes de aprendizado.
Um dia, o processo educativo constituiu poder centralizado e privilégio, como nas antigas corporações de ofício, em que a informação era confidencial e repassada a poucos escolhidos.
Nos atuais mercados virtuais, o detentor do conhecimento pode concedê-lo ou vendê-lo a qualquer pessoa, mesmo que ela viva em outro continente e fale outro idioma. Além disso, pode compartilhar com estranhos suas dúvidas e obter auxílio no desenvolvimento de um projeto arquitetônico, de uma vacina ou de um programa de computador.
É o caso do Stack Overflow, criado em 2008 por Jeff Atwood e Joel Spolsky, um website de capital privado que fornece recursos para programadores que tentam solucionar um problema comum. Atualmente, tem mais de 50 milhões de visitas mensais e 10 milhões de questões.
É difícil mensurar o valor desse material. Uma dica gratuita, em duas linhas, pode ajudar um programador a definir a rota de um satélite espacial ou prever o padrão de deslocamento de um furacão. Quem pode mensurar o valor desse conhecimento?
Criado em 2009, por Adam D’Angelo e Charlie Cheever, ex-funcionários do Facebook, o Quora segue essa linha. No entanto, é um canal mais abrangente e mais genérico de troca de conhecimentos.
As perguntas são apresentadas, respondidas, editadas e organizadas pela comunidade de usuários. Em abril deste ano, a empresa divulgou que recebia 190 milhões de visitas por mês.
Temas banais são discutidos ali, mas também questões altamente complexas. Alguém pergunta, por exemplo, como pode ingressar na família real britânica. Parece uma questão tola. Mas a resposta pode exibir informações valiosas sobre a história do Reino Unido.
Outro usuário tem uma dúvida sobre a órbita de Júpiter, e logo são agregadas ao canal as mais recentes informações da pesquisa astronômica sobre o sistema solar.
O Quora se sustenta. Nos últimos anos, recebeu aportes de capital de várias aceleradoras de negócios, como a Y Combinator. Esses números, no entanto, não respondem à questão que dá título a este artigo.
Os valores recebidos pelos gestores desses canais são menos importantes do que a riqueza difusa gerada na sociedade pelo compartilhamento de saberes. Ela se expressa no desenvolvimento de um novo veículo movido a energia solar ou em um programa que ajuda a gerir programas de nutrição na África Subsaariana.
D’Angelo explica no que o seu Quora difere da Wikipédia: “eles são uma fonte secundária de informação, enquanto nós estamos tentando ser uma fonte primária; eles têm informação factual, enquanto nós temos opiniões e análises”.
Quer crescer e também fazer seu negócio crescer? Divida e compartilhe. A retribuição sempre vem. E acredite: o conhecimento é moeda que nunca se desvaloriza.
Afinal, a teoria, na prática, funciona!