As energias renováveis são fundamentais para reduzirmos as emissões de gases de efeito estufa (GEE) e conter o aquecimento global até 2050, como indica o Acordo de Paris. O consumo de energia, seja nas indústrias, transportes ou outras atividades humanas, responde por 73% das emissões de GEE, segundo a WRI, e é por isso que a transição energética, substituindo as matrizes de geração de energia poluentes por renováveis, é essencial.
Mas, afinal, quais são e qual é a importância das energias renováveis para o planeta e a humanidade? Nesta matéria do Além da Energia você vai entender os principais aspectos a respeito.
Contexto da energia
Segundo a Agência Internacional de Energia (AIE), a eletricidade vai se tornar o pivô do sistema energético global até 2050. Isso significa que as fontes de energia advindas de combustíveis fósseis serão reduzidas a 5% da demanda global, enquanto as fontes de geração de energia elétrica renovável vão responder por mais de dois terços da matriz energética mundial até o período.
O cenário de emissão zero (da sigla NZE, ou Net Zero Emissions by 2050 Scenario) de gases de efeito estufa da AIE prevê maior crescimento das fontes de baixa emissão entre 2021 e 2030. Até 2050, o maior crescimento das fontes de energia de baixa emissão deve acontecer com as energias solar e eólica.
As informações da AIE estão detalhadas no relatório “An updated roadmap to Net Zero Emissions by 2050” e uma matéria a respeito pode ser lida no Além da Energia.
O que são energias renováveis?
A energia gerada por um recurso natural, que se reestabelece naturalmente, é renovável. A energia hidrelétrica, gerada por meio da água dos rios, é um exemplo. A energia eólica (dos ventos), a energia solar (do Sol), a energia de biogás (gás de material orgânico) e a energia geotérmica (que vem do calor da Terra), também estão entre as energias renováveis mais conhecidas e utilizadas atualmente.
Principais fontes de energias renováveis
No Brasil, as usinas hidrelétricas representam o maior parque de energias renováveis. Elas são um conjunto de obras e equipamentos usados para produzir energia a partir do aproveitamento do potencial hidráulico de um rio. Esse potencial é obtido pela vazão hidráulica e pelos desníveis existentes ao longo do curso do rio.
Os desníveis naturais (cachoeiras) são aproveitados mediante a construção de barragens ou pelo desvio do leito natural do rio, levando à formação de reservatórios.
Existem dois tipos de reservatórios: os de acumulação e os a fio d’água. Os reservatórios a fio d’água aproveitam somente a vazão das águas do rio para gerar eletricidade e, assim, geram mínimo acúmulo de água. Já os reservatórios de acumulação reservam água para geração de energia elétrica e acabam tendo usos múltiplos, como irrigação, dessedentação de animais, turismo e abastecimento urbano de água.
A energia elétrica obtida com o aproveitamento do vento, faz uso de aerogeradores equipados de hélices, que se movimentam de acordo com a velocidade do vento local. Tanto elas quanto os aerogeradores, são instaladas em grandes torres, que podem chegar a 150 metros de altura.
Como utilizam o vento – que é um recurso natural que se autorregenera – a energia eólica é considerada uma das mais renováveis já descobertas.
As usinas eólicas podem ser construídas “onshore” – ou seja, em terra – ou “offshore”, quando são construídas no mar.
O Brasil é um destaque nesse setor, pois possui regiões – principalmente, no Sul e Nordeste – de grande incidência de ventos. Neste mapa da EPE, é possível ver os locais.
Atualmente, o Brasil tem capacidade de produzir 32 GW de energia eólica onshore. Só no Nordeste estão 30 GW, ou seja, mais de 90% da produção nacional, segundo o Operador Nacional do Sistema Elétrico. Ao todo, são 1063 parques eólicos em operação no país, como aponta a Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica).
O país ainda não iniciou a geração de energia eólica offshore, mas existem 189 GW de projetos eólicos desse tipo em licenciamento no Ibama atualmente, conforme números da Agência EPBR. Isso inclui 78 projetos de eólica offshore em desenvolvimento em oito estados brasileiros, nas regiões Sul, Sudeste e Nordeste.
O Rio Grande do Sul é quem mais atrai projetos do tipo, com 24 empreendimentos esperando licenciamento ambiental que, juntos, contam com capacidade total de 61 GW. O Ceará aparece em seguida, também com 23 parques, mas com capacidade menor, de 58 GW.
Um outro documento, este chamado Roadmap Eólicas Offshore – Perspectivas e caminhos para a Energia Eólica Marítima, também elaborado pela EPE, detalha esse potencial.
Em suma, podemos gerar 697 GW com a tecnologia. Isto considerando instalações a 100 metros de altura e apenas em costas marítimas com profundidade de até 50 metros.
O Nordeste, novamente, é protagonista nesse potencial. A região concentra mais da metade (356 GW) das possibilidades mapeadas pela EPE. Já o Sul tem 97 GW, o que representa 14% do potencial, e o Sudeste tem o terceiro maior percentual (6,8% ou 47 GW).
Esses são os principais locais com ventos de velocidade superior a 9 metros por segundo, em costas com no máximo 50 metros de profundidade. Se considerarmos profundidades acima de 50 metros, temos ainda mais potencial. Porém, as instalações nessas condições são mais caras.
Em maio de 2024, o parque gerador de energia solar no Brasil alcançou 43 GW de capacidade instalada, segundo a Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar). Novamente, somos privilegiados também para essa fonte de geração de energia e, diferente da incidência de ventos, no caso solar, o protagonista é o Sudeste, mais precisamente, Minas Gerais.
Temos aqui no país o chamado Cinturão Solar. Trata-se de uma região mapeada após anos de observação do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, o Inpe, que publicou o primeiro Atlas Brasileiro da Energia Solar, analisando dados colhidos por satélites entre 2006 e 2017.
Números da Absolar de maio de 2024 apontam São Paulo como o estado de maior produção de energia solar, com 4 GW. Minas Gerais aparece na sequência, com 3,8 GW de geração. Completando o pódio, vem o estado do Rio Grande do Sul, com 2,8 GW. Todos os estados brasileiros, incluindo o Distrito Federal, contam com algum nível de geração de energia solar.
O mercado potencial de biogás no Brasil é de R$ 40 bilhões até 2030, segundo consultoria McKinsey. Isto se refere a um volume potencial de aproximadamente 458 milhões de MMBTu (milhão de BTUs), o que é o equivalente a cerca de 25% a 30% da demanda de gás natural até 2030.
Segundo o Panorama do Biogás no Brasil em 2022, feito pelo Centro Internacional de Energias Renováveis e Biogás (CIBiogás), o país tem 936 plantas de biogás instaladas, sendo 885 unidades em operação, produzindo aproximadamente 2,8 bilhões de metros cúbicos normais por ano (Nm³/ano).
O maior volume de biogás produzido em plantas que entraram em operação no ano de 2022 foi registrado no setor de saneamento, que aproveitou energeticamente cerca de 2,1 bilhões de Nm³/ano de biogás, o equivalente a 74% do biogás produzido no País.
Quando se fala em tipo de biogás, quem se destaca é o biometano, que representa 22% do total produzido no Brasil – são 359,8 milhões Nm³/ano. A agropecuária alavanca esse tipo de combustível, sendo responsável por 63% do total das plantas que entraram em operação em 2022.
Em entrevista ao Além da Energia, o então presidente da Associação Brasileira de Biogás, Alessandro Gardemann, disse que as discussões para elevar a matriz energética de biogás têm se intensificado no Brasil. Isso graças às novas regulamentações estaduais, como a do Rio de Janeiro, que concedeu incentivos para a produção de biogás recentemente, e federais, como o programa Metano Zero, lançado em 2022.
Artigo por: Engie